terça-feira, 1 de outubro de 2013

Folclore do Nordeste

Por: Semira Adler Vainsencher  semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco.

A palavra folclore (folk-lore) foi criada pelo arqueólogo inglês William John Thoms. Ele usou o vocábulo no dia 22 de agosto de 1846, pela primeira vez, em uma carta publicada no jornal The Athenaeum de Londres. Através da referida denominação, Thoms pretendeu englobar os estudos que vinham sendo chamados de Antiguidades Populares, Tradições Populares e Literatura Popular, e que possuíam, como principais características, a popularidade, a oralidade, o anonimato e a antiguidade. 
No Nordeste brasileiro os nordestinos criaram hábitos e costumes sui generis, fruto da miscigenação de três populações: a européia (os portugueses), a africana (os escravos) e a ameríndia (os nativos locais). Essas três raças geraram a população nordestina e todas as suas raízes culturais.
O Maracatu,  portanto, representa uma oportunidade de reviver momentos das relações de poder entre senhores e escravos. Nele, o complexo religioso do Xangô também se faz presente. Os grupos levam estandartes exuberantes, bordados com fios dourados sobre veludo e cetim, a nobreza com as suas coroas, espadas, cetros, capas, as damas da corte levando calungas, todos ao som de um conjunto de instrumentos de percussão. Somente a partir da abolição da escravatura, o maracatu passou a fazer parte do ciclo carnavalesco, resumindo-se ao desfile da corte real negra e obedecendo ao estilo das procissões católicas.
Os Caboclinhos, Cabocolinhos, ou Caboclos, representam um folguedo de origem indígena que se apresenta, durante a festa carnavalesca, nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Ceará. São uma espécie de reisado com bailados mímicos. Tem sua origem em danças executadas por crianças e adolescentes tupinambás do sexo masculino. Foi através desses bailados e brincadeiras que os missionários, no século XVI, conseguiram ganhar a confiança dos índios e, em especial, dos mais jovens. O fato está registrado no livro "Tratado da terra e gente do Brasil", escrito em 1584 pelo padre Fernão Cardim.
O bumba-meu-boi é uma das representações folclóricas mais importantes do Nordeste. Esse espetáculo deve ter sido introduzido, também, no século XVI, no período do ciclo econômico do gado. Segundo os estudiosos, apesar de não possuir uma origem africana, o bumba é um espetáculo de negros, onde eles se apresentam conformados com a sua inferioridade social e transformam a sua dor em comicidade.

Um aspecto a ser observado no bumba diz respeito à ausência de personagens do sexo feminino e à inferioridade com que a mulher é tratada: todas as figurantes são interpretadas por travestis. A única exceção é a pastorinha, representada por uma menina ou adolescente (porém, jamais uma mulher). No Maranhão, o folguedo se apresenta muito rico.

No tocante às danças folclóricas, destaca-se o coco de roda: uma dança mestiça surgida em Alagoas, nos tempos coloniais, onde se misturam dois tipos de escravos: africanos e índios. O ritmo é dado por zabumbas, pandeiros e tamborins, mas as mãos representam o mais importante instrumento musical. O coco de roda era a dança preferida pelos cangaceiros de Lampião. Por isso, ainda se ouve cantar no Nordeste

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