Ana louceira, “dama do barro”, Ana das Carrancas, muitos foram os títulos atribuídos à Ana Leopoldina dos Santos. Pernambucana do sertão de Ouricuri, Ana sempre teve no barro o seu instrumento de trabalho e de expressão artística. Filha de artesã, desde os sete anos já ajudava a mãe na produção de brinquedos de barro que eram vendidos na feira. Anos depois, jovem viúva e com duas filhas, tornou-se famosa pela produção de panelas e outros utensílios de cerâmica.
Mas é no segundo casamento, com José Vicente, que sua história se transforma. Na busca por melhores condições de vida, Ana das Carrancas muda-se para Petrolina e pede ajuda aos santos para que iluminem sua vida e a ajudem a encontrar uma solução para sua condição humilde. No dia seguinte, às margens do rio São Francisco, observando as embarcações que navegam em suas águas, Ana percebe a imponência das carrancas, esculturas de madeira representando criaturas míticas que são colocadas nas proas dos barcos para espantar os maus espíritos do rio. Inspirada, ali mesmo produz sua primeira carranca de barro. O sucesso é tamanho que exige a formação de uma equipe para produção em larga escala.
A família da artesã a apóia, e Ana imprime sua identidade no barro, materializando as carrancas, através de um processo longo de produção. O mais curioso é que todas as suas peças possuem os olhos vazados, como uma homenagem ao seu marido, deficiente visual. A obra peculiar da artista ganha reconhecimento nacional e internacional e se espalha pelas feiras e exposições pelo país, conquistando também admiradores europeus.
Em 2006, Ana das Carrancas recebe o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco . Dois anos mais tarde, vem a falecer aos 85 anos, tendo transmitido seus conhecimentos a suas filhas que dão continuidade à marca da “dama do barro”.
Fotos:Vânia Braynner.
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